A cranioestenose pode estar relacionada à postura ou ser congênita, levando à deformidades cranianas e faciais
Poucas pessoas sabem, mas há um motivo pelo qual a cabeça do bebê consegue passar no canal vaginal no momento do parto. Claro, além da dilatação do colo uterino, o nascimento pelo chamado parto normal ou vaginal só é possível graças ao crânio do bebê ser dividido em pequenas partes. Isso mesmo, o crânio de um recém-nascido não é inteiriço como o nosso.
Os espaços entre os ossos do crânio são chamados de suturas e essa característica é fundamental para o crescimento do cérebro dos bebês. Ao longo do desenvolvimento, essas suturas irão se unir para então formar um crânio inteiriço. Entretanto, quando essas suturas fecham precocemente levam a uma condição chamada de cranioestenose.
Segundo a neurologista infantil, Dra. Andrea Weinmann, trata-se de uma malformação congênita que se caracteriza pelo fechamento precoce de uma ou de mais suturas cranianas. A cranioestenose atinge de 1 a cada 2500 mil bebês nascidos vivos.
“Como resultado desse fechamento, teremos deformidades cranianas ou craniofaciais. É possível suspeitar de uma cranioestenose ainda na vida intrauterina, porém na maioria dos casos o diagnóstico acontece após o nascimento ou ao longo do crescimento do bebê”.
Causas são variadas
As causas da cranioestenose são variadas. “Entre alguns fatores podemos citar uso de anticonvulsivantes durante a gravidez, tabagismo materno, idade avançada dos pais, posição do bebê no útero, gemelaridade, alterações cromossômicas e genéticas, entre outras. Há também as idiopáticas, ou seja, as cranioestenoses em que não é possível identificar a causa”, explica a neuropediatra.
Tipos
As cranioestenoses podem ser classificadas como sindrômicas e não sindrômicas. Isso porque algumas síndromes genéticas podem levar a esta condição, como a síndrome de Apert e a de Crouzon, por exemplo. Também podem ser isoladas, quando envolvem apenas uma sutura ou complexas quando envolvem múltiplas suturas e/ou malformações extracranianas.
A classificação mais usada se baseia na sutura que fechou precocemente. Veja na figura abaixo quais são as suturas:
- Escafocefalia/dilococefalia: fechamento precoce da sutura sagital. É a mais frequente, cerca de 40 a 60% dos casos. Normalmente não está associada a síndromes. O crânio se alonga para trás.
- Trigonocefalia: fechamento precoce da sutura metópica. É a segunda mais frequente, representando de 20 a 26% dos casos. Ao nascimento já é possível visualizar a deformidade, pois o crânio adquire um aspecto triangular. É bastante frequente nas gestações gemelares, assim como quando o bebê fica sentado e não encaixado no canal de parto.
- Plagiocefalia: fechamento precoce da sutura coronal ou lamdoide, unilateral. É a terceira mais frequente e leva a uma assimetria craniofacial, ou seja, um lado fica diferente do outro.
- Braquicefalia/turricefalia: fechamento precoce das suturas coronais e/ou lambdoides. O crânio se alonga para os lados.
Deixar bebê muito tempo deitado também pode levar à deformidade
A plagiocefalia postural é uma condição associada à posição do bebê após seu nascimento. Ocorre devido ao bebê ficar sempre na mesma posição ou ficar muito tempo na mesma posição. Como os ossos do crânio são maleáveis, os fatores mecânicos externos levam as alterações no formato da cabeça.
“A plagiocefalia postural ocorre em até 48% dos bebês saudáveis e hoje em dia é muito comum na prática clínica. Isso porque com a recomendação de deixar o bebê deitado com a barriga para cima para prevenir a morte súbita, a cabeça acaba ficando mais amassadinha na parte de trás. Ou ainda bebês que ficam longos períodos no bebê conforto ou carrinho na mesma posição, por exemplo”, explica Dra. Andrea.
Diagnóstico e Tratamento
A cranioestenose pode ser diagnosticada ainda maternidade. Quando isso não acontece, é comum que o pediatra que acompanha a criança note anormalidades no exame físico e nas medidas do crânio. “Com o acompanhamento do crescimento do perímetro cefálico torna-se possível verificar se o desenvolvimento cerebral está adequado ou não. Estima-se que 25% dos bebês de gestações simples e 50% de gestações múltiplas apresentam algum grau de deformidade no crânio ao nascimento”, comenta Dra. Andrea.
Em geral, o pediatra encaminha a criança para um neurologista infantil, que em parceria com um neurocirurgião, fará a investigação. A médica lembra que todas as crianças com cranioestenose devem ser encaminhadas também para um médico geneticista e, em muitos casos, o tratamento vai envolver uma equipe multidisciplinar.
Também é importante fazer o diagnóstico diferencial entre a cranioestenose puramente posicional, que é a mais comum, e a cranioestenose congênita. O diagnóstico é clínico na maioria dos casos. Porém, a tomografia de crânio com reconstrução tridimensional é solicitada para confirmação da suspeita.
De acordo com o neurocirurgião, Dr. Iuri Weinmann, o tratamento na maior parte dos casos é cirúrgico. “O objetivo principal da cirurgia é a correção da distorção craniana para prevenir a progressão da deformidade e minimizar eventuais prejuízos futuros. Em alguns casos, a cirurgia será de emergência e em outros poderá ser programada”.
Quando não tratada, a cranioestenose pode levar à problemas cognitivos, aumento da pressão intracraniana, problemas visuais por compressão do nervo óptico, assim como pode afetar a saúde mental das crianças no futuro devido a aparência craniofacial fora da normalidade.
Tipos de cirurgia
Em geral, os bebês costumam ser operados entre os seis e oito meses de vida. “Nessa fase os ossos são mais maleáveis e isso ajuda na reconstrução craniofacial. Em muitos casos, precisamos fazer inúmeras cirurgias até chegar em um resultado satisfatório”, comenta Dr. Iuri.
Entre as principais técnicas estão a suturectomia que retira a sutura comprometida, mas não realiza a reconstrução craniana. Essa cirurgia exige o uso de um capacete especial, por cerca de um ano. Outras técnicas envolvem a colocação de molas que irão expandir as suturas, remodelagem craniana, etc. A cirurgia pode ser feita por neuroendoscopia, sendo um procedimento minimamente invasivo, com menor risco de sangramento e menor tempo de recuperação. Mas, cada caso é avaliado e tratado de forma individual.
Deixe um comentário