Entre 10 a 40% das pessoas que se submetem a uma cirurgia para tratar problemas da coluna espinhal, como por exemplo, uma hérnia de disco, podem desenvolver a chamada síndrome da coluna pós-cirúrgica, mais conhecida no meio médico como Failed Back Surgery Syndrome (FBSS). Isso quer dizer que estes pacientes continuarão a apresentar dor na sua forma crônica, mesmo após a cirurgia. (Leia o que é aqui).
Um dos tratamentos feitos para gerenciar a dor crônica na coluna é a chamada estimulação elétrica da medula espinhal (Spinal Cord Stimulation– SCS). Segundo o neurocirurgião Dr. Iuri Weinmann, este recurso é indicado para dores relacionadas à FBSS, assim como para dores neuropáticas. Cerca de 50 a 75% dos pacientes alcançam a redução ou o controle da dor. Além de ajudar a controlar a dor, reduz também a ingestão de medicamentos analgésicos, que quando usados em excesso podem causar outros problemas de saúde, principalmente gástricos.
O que é
“A estimulação elétrica da medula espinhal é uma evolução dos primeiros dispositivos elétricos implantáveis, como o marcapasso, por exemplo. O avanço tecnológico permitiu o desenvolvimento de dispositivos que se encaixam no espaço entre a coluna vertebral e a meninge que reveste a medula espinhal, chamado de espaço epidural. Depois de implantado, o dispositivo é regulado por meio da estimulação elétrica para controle a dor”, explica Dr. Iuri.
Como a dor funciona
Todo o corpo humano possui receptores sensoriais da dor, que podem detectar pressão, calor e fatores químicos. A dor acontece quando um destes receptores é ativado. Isso gera um estímulo doloroso que é conduzido para a medula espinhal por meio das fibras nervosas.
Partindo do conhecimento deste processo, a estimulação elétrica da medula espinhal irá funcionar substituindo os estímulos sensoriais da dor por sensações mais brandas. “Na verdade, o estimulador vai fazer com que o cérebro interprete a dor de uma outra maneira, ou seja, como uma sensação de formigamento leve ou de massagem sobre a região lombar ou pernas, dando uma sensação mais agradável ao paciente”, explica Dr. Iuri.
Período de teste
Há diversas variáveis quando se fala em neuromodulação, como polos dos eletrodos, cargas positivas, negativas e neutras, largura do pulso, frequência dos estímulos e intensidade da corrente elétrica. Assim, antes do implante definitivo, o neurocirurgião irá realizar um período de teste. “Neste tempo vamos analisar como o paciente respondeu à estimulação durante suas atividades diárias e qual foi o impacto no controle da dor. Caso tenha sido uma experiência benéfica, o próximo passo é partir para o implante definitivo”, conta o neurocirurgião.
Como é feito o implante
“O eletrodo é implantado em uma cirurgia minimamente invasiva, com anestesia geral, em ambiente hospitalar. O dispositivo ficará dentro da coluna, na parte posterior da membrana que recobre a medula espinhal. O gerador dos impulsos elétricos, geralmente, é implantado na região do abdômen ou no tórax”, diz Dr. Iuri.
Atualmente, os dispositivos mais modernos são alimentados por radiofrequência ou podem ter baterias. A duração média é de seis a nove anos. Após este período, precisam ser trocados. Os sistemas que permitem a recarga periódica têm algumas vantagens, como maior longevidade do aparelho e uma variedade maior de programas para uma terapêutica mais ampla.
A recuperação é relativamente simples, mas durante dois meses é preciso evitar esforços físicos, como levantar ou carregar peso, fazer esportes de alto impacto, entre outros. O acompanhamento com o neurocirurgião também é importante para ajustar o dispositivo até chegar aos parâmetros ideais e, depois disso, as consultas podem ficar mais espaçadas.
“A dor crônica é um problema sério e, portanto, este tratamento pode beneficiar o paciente não só no controle da dor, como também melhorando a qualidade de vida, devolvendo a capacidade laboral, independência e autonomia”, conclui Dr. Iuri.
Ref:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29913713
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