Você já ouviu falar da dieta cetogênica? Trata-se de uma alimentação rica em gordura e com poucos carboidratos. Essa dieta induz a pessoa a entrar em cetose, um estado metabólico em que a energia necessária para as atividades e funções do organismo não venha da glicose, mas sim de moléculas chamadas corpos cetônicos. Estes, por sua vez, são produzidos pelo fígado em períodos de jejum ou quando há pouca ingestão de carboidratos.
A dieta cetogênica não é novidade. Ela é citada até mesmo na bíblia. Porém, até pouco tempo, não era muito divulgada e experimentada no meio médico. Hoje, ela tem sido usada em várias doenças, como a epilepsia e mal de Alzheimer, por exemplo.
A novidade é que estudos recentes, apresentados no último encontro anual da Sociedade Americana de Epilepsia e no 37º Congresso da Liga Brasileira de Epilepsia, que aconteceu entre os dias 6 a 9 de junho, em São Paulo, mostraram que a dieta cetogênica é tão efetiva para controlar as crises epiléticas quanto a terapia de estimulação do nervo vago (VNS) ou a calosotomia, em pacientes que apresentam epilepsia refratária, ou seja, aquela que não responde aos tratamentos medicamentosos. Além de reduzir as convulsões, a dieta também melhora o comportamento e qualidade de vida das crianças com este tipo de epilepsia.
Estudo comparativo
Um dos estudos comparou a dieta cetogênica com outros dois tratamentos que são feitos para a epilepsia refratária: a terapia de estimulação do nervo vago (VNS) e a calosotomia, procedimento cirúrgico que secciona o corpo caloso e interrompe a prorrogação de convulsão nos dois hemisférios cerebrais. As crises caíram pela metade em cerca de 62,5% das crianças que seguiram a dieta; 51,7% nas crianças com VNS e 53,5% nas crianças do grupo da calosotomia.
Segundo a neuropediatra Dra. Andrea Weinmann, a dieta cetogênica é um recurso de primeira escolha quando há refratariedade, podendo inclusive ser associada ao VNS, com excelentes resultados. “Outro ponto importante é que hoje, com as fórmulas disponíveis, ficou mais fácil a administração da dieta. Uma vez iniciada, é necessário o comprometimento da família e os resultados já começam a aparecer em cerca de 3 meses”.
Como é feito
Quando a criança é diagnosticada com epilepsia refratária, o neuropediatra pode recomendar a introdução da dieta cetogênica, caso não haja nenhuma contraindicação. Normalmente, o médico trabalha em parceria com um nutricionista com experiência neste tipo de dieta.
“Normalmente, a dieta é introduzida aos poucos, em esquema ambulatorial, sempre respeitando a individualidade da criança e de forma gradativa. Isso ajuda o organismo a se adaptar melhor. A ideia é que chegar no esquema 4:1, ou seja, quatro porções de gordura e uma de carboidrato, mas isso é feito aos poucos”, explica Dra. Andrea.
Estima-se que, em média, a adaptação ocorre dentro de três a quatro meses. Neste período, o médico e o nutricionista irão avaliar se é possível manter ou não a dieta. Se for viável, deverá ser mantida durante dois a três anos, dependendo da reposta da criança. Depois deste período, a dieta será retirada de forma progressiva até se tornar uma dieta convencional.
A resposta esperada como satisfatória é a redução em pelo menos 50% na frequência das crises. Quando isso ocorre, é possível que mesmo com a retirada da dieta, a criança apresente mudanças permanentes no metabolismo cerebral que irão ajudar no controle da epilepsia.
“De qualquer maneira, apesar dos bons resultados, a dieta cetogênica pode trazer riscos à saúde da criança e não deve em hipótese alguma ser adotada pelos pais sem o acompanhamento do médico e do nutricionista. Lembrando ainda que não é indicada para todos os casos de epilepsia refratária”, encerra Dra. Andrea.
Ref:
https://portugues.medscape.com/verartigo/6501829
https://portugues.medscape.com/verartigo/6502198_4
https://www.aesnet.org/meetings_events/annual_meeting_abstracts/view/349888
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