Postado em 27 de junho de 2018 no Desenvolvimento Infantil, Neuropediatria

Meninos que não andam até os 18 meses precisam ser investigados

Você já deve ter ouvido falar que cada bebê tem seu tempo para alcançar os marcos do desenvolvimento, como sentar, engatinhar e andar, por exemplo. Mas, há prazos limites e quando o bebê não atinge certos marcos, é preciso investigar.

Um dos primeiros sinais da Distrofia Muscular de Duchenne, doença causada por uma mutação genética que só afeta os meninos, é o atraso da marcha por volta dos 18 meses.  A Distrofia Muscular de Duchenne é a distrofia muscular mais comum e mais grave que existe. A sua prevalência é de 4.8 em cada 100 mil meninos nascidos vivos (1).

Segundo a neuropediatra, Dra. Andrea Weinmann, a Distrofia Muscular de Duchenne é uma doença genética causada por uma mutação que leva à deficiência da distrofina. “Essa proteína é responsável pela manutenção da estrutura das células musculares. A sua deficiência leva os músculos a enfraquecerem progressivamente, causando uma série de problemas de saúde”.

Genética e Duchenne
A Distrofia Muscular de Duchene é causada pela mutação em um gene chamado DMD, com padrão de herança recessivo ligado ao cromossomo X. Estima-se que em 70% dos casos o gene defeituoso é herdado da mãe e, em 30% dos casos, ocorre uma nova mutação. Vale dizer que embora a mulher seja portadora do gene defeituoso, ela não desenvolve a doença, pois o outro cromossomo X compensa a deficiência. Já nos meninos, isso não acontece, pois eles têm um cromossomo X e um Y.

Os primeiros sinais
Segundo Dra. Andrea, o bebê que nasce com Duchenne é normal, ou seja, raramente será possível detectar a doença ao nascimento. “Mas, os primeiros sinais podem surgir quando a criança passa dos 12 meses e começa a apresentar dificuldade na marcha. “Aos 18 meses, se o menino não anda, tem uma marcha bamboleante ou ainda o sinal de Gowers (usa as mãos para escalar o próprio corpo e achar uma posição para poder se levantar), é preciso fazer uma investigação diagnóstica”. Atrasos globais no desenvolvimento também podem chamar atenção.

“A fase mais crítica costuma ser entre os 3 e os 5 anos de idade. Costuma haver atraso no desenvolvimento motor grosso, marcha anormal e/ou bamboleante, dificuldade para se levantar do chão e histórico de quedas frequentes. Outros sinais são fraqueza muscular proximal (tronco) maior que nos membros e hipertrofia da panturrilha (aumento do volume dos músculos da batata da perna), além da reação positiva de Gowers”, explica a neuropediatra.

Evolução
“Em todos os pacientes, com o passar do tempo, há comprometimento respiratório com o desenvolvimento da doença pulmonar restritiva, que pode levar à insuficiência respiratória crônica, sendo esta a principal causa de óbito destes pacientes. A apneia do sono também está presente em cerca de 30% deles”, explica Dra. Andrea.

Como o coração é um músculo, também é afetado pela distrofia. “Por volta dos 10 anos de idade, há evidências de alterações no ritmo e na condução cardíacas, com aumento do coração (cardiomiopatia dilatada), sendo esta a segunda causa de mortalidade dos pacientes”, comenta a neuropediatra.

“Outras complicações que surgem com o passar do tempo são escoliose (desvio da coluna), fraturas e osteoporose. Quanto à cognição, a maioria dos pacientes apresenta essa característica preservada, mas 30% deles têm alterações intelectuais. Outra questão que impacta na qualidade de vida é a dificuldade de se alimentar, levando à perda de peso e graves deficiências nutricionais. Quase todos irão precisar de cadeira de rodas para se locomover”, conta Dra. Andrea.

Diagnóstico
O neuropediatra, que é especialista no sistema nervoso, é o especialista indicado para fazer o diagnóstico. Normalmente, é também solicitado a parceria com um geneticista, já que se trata de uma doença genética e pode ser preciso investigar a família e, posteriormente, fazer um aconselhamento genético.

“Depois da avaliação clínica, solicitamos exames que possam confirmar a suspeita. São diversos exames, desde dosagem de enzimas (CK plasmática), biopsia de músculo e pesquisa de distrofina. Atualmente, são feitos os testes genéticos e, quando inconclusivos, a biópsia muscular”, comenta Dra. Andrea

Tratamento e Prognóstico
O tratamento da Distrofia Muscular de Duchenne é multidisciplinar. A criança irá precisar de vários cuidados, desde o acompanhamento com o neuropediatra, fisioterapeuta, nutricionista, terapeuta ocupacional, e outras especialidades médicas, como cardiologista, pneumologista, entre outros.

“Infelizmente, nenhum tratamento cura a doença. Os objetivos são minimizar os danos, melhorar a mobilidade e a qualidade de vida com um todo. Há pesquisas que estudam a terapia genética para atingir o gene defeituoso, mas isso deve levar alguns anos ainda para se tornar realidade. E mais recentemente, foram aprovados nos Estados Unidos dois medicamentos, que são de alto custo e têm indicações específicas, determinadas pelo tipo de mutação que a criança apresenta”, encerra a médica.

 

Ref:

(1) https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29936551

https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/72249/2/28827.pdf


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